Olha o Trem!

Olha o Trem!
: : Morretes : : Foi elevada a termo em 21/05/1.892, pela Lei nº 15.

Morretes!




Na singeleza desta saudação imbuída de nobres sentimentos eu te dedico, boa terra!
Quisera poder conceber um hino a tua grandeza para cantar em estrofes de ouro as fontes inesgotáveis de riqueza com que a natureza te cingiu, Morretes!
Quero-te muito, quando me detenho a contemplar o poético e decantado Nhundiaquara cujas águas cristalinas formam uma verdadeira consonância com a pureza de tua inigualável hospitalidade.
Admiro-te sinceramente ao divisar nos altos píncaros do Marumbi a grandeza de coração dos filhos teus.
Preso-te francamente por ter sido o berço de Rocha Pombo, brasileiro ilustre e perscrutador único da História Pátria.
Levo-te deveras porque as suas glebas são férteis, por isso que das sementes plantadas nos campos do trabalho, tens a glória de tua abastança.
Morretes, terra amiga, eu te saúdo!


LAUDEMIRO L. DA ROSA

Exploração do Ouro em Morretes




Marcos L. De Bona




Os órgãos de comunicação – TV’s e jornais – deram a notícia da possibilidade da exploração do ouro neste município e em todo o litoral, para tanto tendo sido delimitada pela Secretaria de Indústria e Comércio uma área de 22 Km² de aluvião e de 70 Km² de encostas da Serra do Mar, ficando autorizada a empresa Mineropar para a execução de um programa específico de pesquisas.

Vemos com boas perspectivas essa iniciativa, pelo menos quanto ao Município de Morretes, pois somos conhecedores de pessoas que há tempos, em fins de semana vêm fazendo um “bico”, portando bateias e obtendo pequenas quantidades de pepitas do rio. Não é uma atividade muito lucrativa, visto que o trabalho é grande e o resultado pequeno, mas que existe ouro, existe mesmo, e quem sabe se com processos mecanizados e com a orientação de técnicos, a coisa pode ser viável economicamente.

Os registros históricos apontam a região como tendo sido uma das primeiras áreas a produzirem ouro no início do povoamento do Paraná, ainda no século XVI. Lembramo-nos que no ano de 1936 o ilustre paranaense Dr. Lysimaco Ferreira da Costa fez uma tentativa nos terrenos pertencentes a Pedro Manso da Silva, no povoado de Anhaia, onde havia indícios da exploração da famosa mina Penajóia, comprovando-se a existência do precioso metal, não tendo o empreendimento sido levado avante certamente pelas dificuldades encontradas no momento. Dessa iniciativa do Dr. Lysimaco, não tendo sido o ouro, um outro benefício resultou para Morretes: foi a vinda do seu filho, então recém-formado, Antonio Franco Ferreira da Costa, para passar uma temporada na propriedade e que acabou sendo Prefeito nomeado pelo interventor Manoel Ribas, e posteriormente Juiz de Direito, pessoa muito querida aqui e que em seguida projetou-se na magistratura chegando a desembargador.

A mina Penajóia foi famosa segundo o historiador Vieira dos Santos, era de lavras muito abundantes, em cascalho azul. Pertencia ao Sargento-Mor Domingos Cardoso Lima, abastado de bens e possuidor de muita escravatura, e tendo enriquecido com as lavras de Açongui, veio estabelecer sua moradia em Morretes. Sua casa era adornada de damasco e seda; sua mesa servida de baixelas de prata; suas mocambas ou as mulatas, pagens de sua família, adornadas com cordões de ouro; e até tinha uma banda completa de música, que seus escravos tocavam principalmente quando ele ia à vila de Paranaguá, fazendo uma entrada pomposa ao som da trompa e de clarins.




Curitiba, domingo, 13 de dezembro de 1981.

Inauguração do Retrato de Getúlio Vargas na P. Municipal de Morretes



Solenemente Inaugurado o Retrato do Chefe da Nação na Prefeitura Municipal

Constituiu acontecimento de expressiva vibração cívica a inauguração solene do retrato do Presidente Vargas no salão nobre do Espaço Municipal desta cidade.
A cerimônia revestiu-se de vivo entusiasmo, estando presentes todas as autoridades e grande número de pessoas. O Sr. Pacífico Frederico Zattar, Prefeito Municipal, abrindo a sessão, disse palavras sobre a figura do grande condutor do Povo Brasileiro, descendo em seguida a Bandeira Pátria, que até então cobria o retrato, uma salva de palmas se ouviu nesse momento, ao mesmo tempo que alunos do curso complementar do Grupo Escolar, bem como todos os assinantes entoavam o Hino Nacional.
Em seguida, O Sr. Prefeito deu a palavra ao orador oficial, o Sr. Aguillar Moraes, que prenunciou vibrante oração de glória ao admirável estadista, lendo após para melhor conhecimento dos que tiveram prazer de ler nos jornais que a publicaram, a entrevista coletiva do Dr. Getúlio Vargas, concedida há pouco em São Lourenço aos representantes de quase toda a emprensa brasileira.
Finda a oração do Sr. Aguillar Moraes, o Sr. Prefeito tornou livre a sessão, agradacendo o Sr. Prefeito a presença de todos.
O solene ato foi participado por telegrama ao Sr. Getúlio Vargas e ao Serviço de Divulgação do Governo Federal pelo Sr. Secretário da Prefeitura e ao jornal “A Noite” do Rio, pelo seu representante nesta cidade.

BERNARDO MOREIRA, CIDADÃO MORRETENSE




- Marcos Luiz De Bona-


Em seu retiro na Fazenda do Morro Grande no Rio do Nunes, em Antonina, sua terra natal, o septuagenário Bernardo Gonçalves Moreira de seança de uma vida dignificada pelo trabalho, pela honradez e pela bondade.

A passagem por Morretes desse vulto paranaense, foi em todos os sentidos benéfica para a nossa cara cidade. Foram 15 dedicados ao progresso industrial, à elevação cultural, social e cívica da terra nhundiaquarense.

Bernardo Moreira era um cidadão devotado à sua terra, mas emigrou para Buenos Ayres em busca de maiores horizontes para o seu espírito empreendedor. De regresso à Pátria, veio casado com a exma. Senhora Honorinda Insua, de descendência uruguaia, vindo também em sua companhia pessoas que aqui tiveram depois grata convivência social: seu cunhado José Maria Insua, seu sogro Sr. Manoel e a tia de sua esposa, dona Madalena Cruzado, que veio a consorciar-se com o Sr. Arsemene Porrua.

Em 1914, arrendando o Engenho de Mate do Sr. Arsenio Gonçalves Cordeiro, desenvolveu sua atividade no local onde é hoje a Química da firma Malucelli. Transferiu-se para Curitiba para trabalhar no engenho do Banco, mas desejando morar definitivamente em Morretes, arrendou o engenho “de cá”, isto é, aquele que ficava antes do engenho do falecido Arsenio, na mesma estrada para o cemitério. Por esse tempo, Florenço Rocha havia deixado de exercer suas atividades industriais no mesmo local. Em seu novo estabelecimento, Bernardo Moreira foi feliz e pode com esse resultado dar início à construção do futuro prédio de alvenaria na rua General Carneiro. Trabalharam ali nos serviços de Alvenaria, o Sr. Nicola Grossi, como chefe, e ainda Sebastião Dolfato, Cezar Alpendre e outros. Na parte dos carpinteiros, Marcos Turim, como chefe, e ainda Euclides Freitas, João Poli, João Adolfo e outros. O saudoso Marcos Turim veio a ser compadre e amigo íntimo do proprietário.

Concluída a fábrica, passaram à mão de obra de um grande armazen, ao lado, bem como iniciaram os alicerces da futura casa residencial à rua Visconde do Rio Branco. Por conveniências do momento, o prédio do armazém ficou modificado para residência, aliás resultou uma bela e ampla casa, abandonando-se os alicerces da residencial que hoje ainda existem e foram vendidos, inclusive o terreno, para o Sr. Sanson.

Transferidas todas as atividades de Bernardo Moreira para os estabelecimentos da rua General Carneiro, organizados os seus negócios que passaram a ter marcha normal, pode ele e sua exma. Esposa dedicarem grande parte do seu tempo às causas públicas de nossa terra. Assim é que o vemos como Presidente e sócio benemérito do clube 7 de Setembro, que conserva em sua sede um retrato seu ao lado de Luiz Brambilla e de Rodrigo de Freitas; vemo-lo dirigindo o Tiro de Guerra 70, de gloriosas tradições, tendo sido construtor da linha de Tiro no terreno cedido pelo Sr. Daleuqui; vemo-lo em 12 de dezembro de 1925, como Metteur en Scene, juntamente com Clemente Consentino, no Grupo Dramático, para a representação de “Cenas da Miséria” e “Fotógrafos em Apuros”; admiramos-lhe como animador da Banda Musical Euterpina; como padrinho e sua esposa como madrinha, na reforma dos sinos da Igreja Matriz; como o maior contribuinte para a construção da escada grande da Matriz; como organizador dos escoteiros, fazendo ir à frente os pecorruchos Manoelito Nogueira e Dorival Porrua; vemo-lo ainda no desempenho de inúmeras funções públicas e como cidadão sempre procurado para as iniciativas em que fossem necessárias as ajudas dos homens válidos da cidade.

A sua atuação como Presidente do Tiro de Guerra se caracterizou pela presença a que deu ensejo de destacadas figuras do Exército Nacional. Por ocasião dos exames dos futuros reservistas, não permitia que os oficiais fossem para o Hotel. Haviam de se hospedar em sua casa. Por ali passaram os então tenentes Catão, Dedier, Granville, João Gualberto, França Gomes e outros. O major Rego Barros, com sua Secção de Metralhadoras, certa vez escolheu a chácara do Sr. Bernardo, onde hoje está a propriedade dos Freitas, para um acampamento e combate simulado. O General Fontoura, foi hóspede por vários dias do benquisto casal.

Na política, sofreu Bernardo Moreira uma derrota motivada pelas circunstâncias, candidatando-se a prefeito por imposição de um grupo de amigos seus, nas eleições de 1920, não logrou destronar Romulo Pereira que era por assim dizer Prefeito Perpétuo de Morretes e que tinha o apoio do Governo. Isso entretanto em nada diminuiu o grau de consideração e estima que gozava, tanto assim que Romulo Pereira, reconhecendo nele o homem capaz e probo, continuou a dedicar-lhe a mesma velha amizade, tendo-o confiado uma grande incumbência: a de organizar e dirigir todo o programa de festejos e ornamentações do Centenário da Independência.

Um lamentável incêndio destruiu em 1924 esplêndida indústria do preclaro Cidadão Morretense, abatendo-lhe em parte o ânimo forte, logo porém restabelecido. Transferindo a residência para a terra Natal, foi Prefeito Municipal da sua Antonina no delicado período de transição entre o regimen Estadonovista e o da redemocratização do país. Hoje permanece em sua Fazenda, saudoso de sua virtuosa esposa falecida há poucos anos e por certo de espírito e ânimo alevantado pela satisfação do dever cumprido.

Homenagem a Theodoro de Bona




A estadia nesta cidade do vitorioso pintor conterrâneo Theodoro de Bona deu margem a que a sociedade morretense homenageasse condignamente esse ilustre continuador da portentosa obra de Andersen.

Dessa arte, as homenagens excepcionais a Theodoro no em da sua chegada, em que as sociedades “Sete de Setembro”, “B. R. dos Operários”, grêmios “Cruzeiro do Sul” e “Lyrio do Nhundiaquara” se fizeram apresentar e o povo em massa, seguiram-se outras tantas promovidas pelo glorioso Clube Sete de Setembro, cuja diretoria, numa visão perfeita de sua responsabilidade social perante uma época, promoveu em sua rica sede, com a cooparticipação do seu consócios e convidados, imprensa e autoridades, o Vinho de Honra com que distinguiu os méritos do artista conterrâneo que, tal como Rocha Pombo, por certo há de juntar muitas glórias à pátria e à terra natal hoje, tão jubilosa com a sua vitória. A festividade no Sete de Setembro, para a qual, num requinte de gentileza, as nossas sucursais foram convidadas; constituiu um esplendor, uma magnífica serenata.

Deve ter sentido, Theodoro, o quanto se estima os valorosos e que grande apreço lhe tem o povo de sua terra.

Theodoro jamais poderá fracassar. Da sua retina, acreditamos, jamais se apagarão esses eflúvios benéficos, esse incentivo patriótico e bairrista com que o cumulou o seu povo. Aquele que sempre seguia-lhe espiritualmente nas suas vitórias e nos seus anseios pelas terras de Daniel.




Diário da Manhã – 30|11|1936.

Theodoro de Bona


Sócio correspondente da Sociedade Brasileira de Belas Artes



Conhecia De Bona de há anos passados como pintor da paisagem.

Agora, acabo de conhecer o pintor ilustre como artista da figura humana.

Teodoro De Bona não é simplesmente uma esperança do Brasil, é um pincel inspirado, é um artista genial.

Teodoro De Bona é um sonho que se debuxa no esplendor da aurora: é uma revelação bela da vida, uma fulguração de dias próximos no fulgor da evolução.

De há muito eu esperava pelo aparecimento da sua estrela. De há muito eu esperava pelo seu triunfo, pela vitória final da beleza do seu sentimento.

O seu devotamento à carreira das artes até o sacrifício extremo era sintomático de seu temperamento de grande artista e o astro maior do céu de uma grande memória.

Se fora vivo, Alfredo Andersen devia sentir-se ufano da glória de hoje e da fama de amanhã do seu antigo discípulo.

Já antes de sua viagem à Itália, De Bona pintava a natureza com alma, destacando-se com a lembrança de sua arte de ontem,, entre outras, as telas “ Terra Natal” e “ Águas Poéticas do Nhundiaquara”.

Poucas telas encontrei no atelier de De Bona, pois o grosso de suas habilidade artísticas está em São Paulo.

Como um cabo de guerra, que vai ao combate, ele pensa de ter mandado para a frente de sua habilidade interessante a obra primeira dos encômios de sua mocidade gloriosa, mas certo, por cá ele deixou pedaços de sua alma, que a minha alma falaram com eloquência e ardor.

Vim, vi e senti como tanto esperava, um grande talento de pintor da figura humana.

De Bona é um dos maiores talentos da geração nova de pintores ilustres do Brasil.

Sua técnica é toda sua: é sua personalidade.

Sua sensibilidade de esteta da vida, do sentimento e da alma é servida por uma sensacional delicadeza nervosa.

Não fora sua sensibilidade de extrema delicadeza, ele seria provavelmente um trágico desequilibrado.

A arte de De Bona revela o espírito da própria natureza: é a arte do ser oculto, que se revela nos frêmitos da aurora.

Há tanta sensação, há tanta vida, há tanta vibração luminosa no auto retrato de De Bona que eu senti como que transparente! Nessa arte, sua influência do sexto sentido, do sentido etéreo, do sentido da intuição.

A tela “ Paraíso Perdido” que foi adquirida oficialmente para a galeria da Escola das Belas Artes do Rio de Janeiro para a Pinacoteca Nacional, e calcada nesta mesma técnica.

É de ver como De Bona soube pintar o homem e como soube pintar a mulher na empolgante tela do “Paraíso Perdido”.

Nesta empolgante obra de arte, Adão é realmente pintado como um macho, forte, musculoso, vibrátil, palpitante de energia e tão feito de nervos. Que parece querer erguer-se na sensação do fenômeno da percepção vertical do senso de vida. Ao passo que Eva era pintada como carne suave, como carne sentimental, como carne de sensação lisa, sem vibração exterior dos músculos, como carne – suspiro.

A figura do macho é de força; a da fêmea de doçura: uma é alma vibrante, a outra é coração e poesia.

O conjunto das suas figuras dá a impressão de harmonia do ser ao ser unido, como a realidade do homem e sensibilidade da mulher, como sentido único da audácia do macho conjugada à timidez da fêmea.

A arte de De Bona é assim, uma possibilidade de interpretação da beleza humana, do ser e da vida.

Não tive oportunidade de ver um retrato de Turim executado pelo pincel de De Bona. Viaro, que é um auto-retrato crítico e que tem senso crítico, diz que, entre todas as obras de De Bona, que ele viu, essa é a melhor, a de acabamento mais perfeito.

Turim, o mestre do cinzel, diz que seu retrato é uma obra-prima.

Pelo pequeno esboço da cabeça de Turim, que eu tanto senti e admirei, eu posso calcular o que seja esse retrato.

Esse esboço é admirável e comovente; creio que só uma pessoa sem sensibilidade deixaria de sentir nesse trabalho o semblante e a própria feição de Turim, desse eminente Turim de quem as gerações guardarão memória e veneração.

Não quero e não posso terminar essa crônica, sem falar em um amplo esboço de um nu artístico, que De Bona ainda não terminou.

É tão grandioso esse esboço de nu artístico, que não havia necessidade de executá-lo, pois, já é uma preciosidade de arte na qual podia De Bona, esperar a transmissão de seu renome à posteridade.

Meu ser comoveu-se todo na contemplação dessa obra de arte tão chei de espontaneidade quanto de simplicidade magnífica.

A mulher que serviu de modelo era feia. Entretanto, pintada é bela. Essa pintura é altamente espiritual, é uma tela de humana pureza.

A referida tela tem tanta atmosfera, tanta alma, tanta vibração, tanta emoção espiritual, tanto encanto, tanta beleza, que revela o poder da fascinação do homem diante da vida, da alma e da poesia grandiosa da natureza humana.

Teodoro De Bona é o artista de uma tendência científico-emotiva de manifestação espiritual do ser.




Texto de Lindolfo Barbosa Lima – Outubro de 1939

De Bona - Pintor Brasileiro

Menotti Del Picchia


De Bona, pintor brasileiro, apresenta no Palácio das Arcadas, uma exposição que assinala a presença de um notável artista entre nós. Veio do Paraná, onde iniciou sua formação com Andersen, o patriarca da pintura na terra dos pinheiros. Fez seu noviciado europeu na Itália, tendo entre outros orientadore, Ettore Tito, o mestre luminoso das claras figuras solares.

De Bona é simples, um tanto taciturno, mas agudo de observação e de engenho. Percebe-se que é um artista que meditou e compreendeu que a pintura não é cabotinismo: é um lento e penoso exercício de penetração do espírito das coisas. Há nele todos os elementos do pintor vendável, se quisesse enganar o público com seu virtuosismo. Não lhe falta a facilidade decorativa feita de cores álacres de desenhos retóricos. De Bona, porém, foge às léguas dessa falsa tendência. Recolhe-se pensativo e se tortura nessa busca da verdade íntima das coisas, de substância pictórica, que é feita de uma sensível utilização da matéria, de uma angustiada procura dos ângulos pictóricos que possui a natureza e que somente um verdadeiro artista descobre.

A paisagem, o retrato, a figura, o quadro da composição, tudo é já familiar ao seu pincel. O retrato de J. Turim é uma obra prima do gênero. Há um estranho vigor nessa figura, equilibrada, estruturada, dentro de um forte senso de volume. Nesse setor é digno de nota o estudo de retrato, humilde como realização mas valioso como documento honesto de boa pintura.

O desenho de De Bona acusa seu rigoroso e paciente treino de academia. Com essa sólida base não assustam o artista, as “poses” mais ousadas. Empreitadas técnicas quase sempre com galhardia.

Seu “Nu acadêmico” é já um grande quadro ao qual nada falta da pincelada larga e segura do senho impecável ao ambiente harmônico, tudo pintado com cores limpas acusando uma palheta não restrita às convenções cromáticas desta ou daquela corrente. Em “Críticos Severos” uma salitrada e fresca composição marinha, a impressão larga das figuras, dota-as de um espontâneo dinamismo. O ar circula na praia que o sol doura e a expressão das crianças mirando pasmadas a tela, sustenta um milagre difícil de espontaneidade.

Suas paisagens contêm algumas obras definitivas: Praça S. Marco resolve um problema: o problema de não tornar banal nem transpor para o clássico cromo turístico a grande praça. Há nessa tela incrível segurança na disposição dos planos e na realização da perspectiva. Creio que o “Em Velha Veneza” uma corajosa reconstrução do grupo de antigas casas vistas do alto, dá a medida exta de sua potência pictórica. Nesse quadro e no maravilhoso “Velho Canal” o artista alcança o clímax atual de sua força expressiva. Não cabe aqui, entretanto, um estudo pormenorizado da obra desse brilhantíssimo artista.

Quero apenas relevar a profunda honestidade dessa arte, moderna no melhor sentido, não imbuída no tolo cerebrantismo que infecta e impesta muito da nossa cultura.

Vale a pena ir ao Palacio das Arcadas e ver os quadros que De Bona apresenta. Eles honram sobremodo a atual pintura brasileira.